Estes fatos que agora relato aconteceram ao final do mês de maio entre os dias 25 e 29. Estamos, a partir desta data, a explorar os locais mais a oeste do país. Esta jornada começa na província de Kando Kubango, que fica localizada na extremidade sudoeste do país, região de altitude acima dos 1.300m. São chamadas por todos aqui como as “Terras de Fim de Mundo”, devido a distância e a dificuldade de acesso. O trecho começa na cidade de Menongue e vai até a cidade de Matala, situada na província do Huíla a 320km de distância. Se fôssemos de automóvel a distância para se atingir as Terras de Fim de Mundo, seria em torno de 2.000 km de estrada em péssimas condições.
Mapa
Devido a urgência, o INEA fretou um jatinho para levar a equipe, o que tornou a viagem mais interessante pela proximidade com os pilotos e aeromoça, todos angolanos. A nossa equipe era composta de seis pessoas. Os brasileiros eram os de sempre: eu, Sidclei e Janilson. Os angolanos eram também em número de três: Armando, Célio e Antônio Pedro. A viagem não poderia ter transcorrido mais tranqüila e confortável através do céu de brigadeiro que pairava sobre Angola naquela manhã de 25 de maio. As paisagens vistas de cima, mostravam as terras inexploradas cobertas de florestas abertas e savanas típicas da África que vemos nos filmes. Fui avisado pelos engenheiros do INEA da possibilidade de encontrar os elefantes que tanto procuro e com um agravante. Nestas áreas foram encontrados, recentemente, leões e nos pediram para termos cuidado, embora o engenheiro Waldemar Alexandre (uma das pessoas que eu considero que mais conhece e entende deste país) tenha me tranqüilizado. Normalmente, em seu habitat,os leões fogem ao pressentir a presença de humanos, a não ser que sejam atacados. Pediu entretanto, que se fosse necessário dormir na estrada, que seja dentro dos carros. Nada de acampamentos! Em relação aos animais angolanos, eu já formei a minha idéia após percorrer quase 70% do país. Se eles estão voltando, após os conflitos, não é próximo às estradas que eles vivem ou caçam, não estes de grande porte.
Visualizar Menongue de cima me causou uma sensação de isolamento. Como a população deveria sofrer para fazer jus àquela alcunha de “Terras de Fim de Mundo”. Situada no meio da África, a melhor opção de acesso a Menongue é por ar. As estradas que partem de lá, devido precariedade, quase que não têm destino certo e só servem a automóveis de médio e grande porte. É difícil sentir na pele este isolamento quando em nosso país, mal ou bem, conseguimos trafegar para qualquer lugar que quisermos. Estes pensamentos tomariam mais corpo no decorrer dos trabalhos, mesmo porque era para isto que nós estávamos chegando ali. Para, com o nosso trabalho, ajudar na resolução do problema.
Menongue do alto - isolamento
Quando o jatinho aterrisou e pudemos descer naquele planalto africano, as primeiras boas-vindas nos foi dada por um frio de 12º que fez doer a alma. Nos despedimos da equipe de bordo e encontramos com a equipe de terra que nos iria acompanhar naquela jornada. Era composta por José Maria e Florêncio dois Directores Provinciais das províncias de Kuando Kubango e Huíla, respectivamente, devidamente acompanhados de seus comandados que totalizavam algo em torno de 15 pessoas.Saímos do aeroporto com essa equipe tamanho gigante (a maior que já tivemos nos assessorando) a bordo dos Land Cruiser´s da Toyota. Não queria fazer nenhuma propaganda aqui, mas o que vi estes carros fazerem nesta viagem foi de espantar. Estou comparando suas qualidades as de três máquinas possantes: o bode, o camelo e o boi. O bode pela forma como eles “saltaram” pelas rochas das rampas íngrimes nas tomadas do rio Cutato. O Camelo, pela autonomia com que ele consegue ir de norte a sul do país sem reabastecer e o boi pela carga (pessoas mais mantimentos) que levou garantindo o mesmo desempenho e preservando as características dos animais anteriores. Além disto o carro era anfíbio, pois atravessou todos os rios e riachos que se colocaram em seu caminho. Isto se deve ao seu suspiro (escape) elevado acima do nível de visão do motorista.
O Land que são três.
Menongue embaixo trás novas sensações que se ampliam quando combino com tudo que estava pensando no avião sobre o isolamento. Reconheci em sua população além dos aspectos anteriores, os do desafio e da persistência de viver em um lugar tão ermo. Apesar de ser a capital da província, não havia prédios. As ruas tinham muita poeira, pois nada consegue deter o vento nesta área. O frio faz com que tudo caminhe mais devagar, causando no fim, o mesmo efeito do calor intenso ou do sol a pino nas pessoas. Em alguns locais se viam praças arborizadas e as sedes das Instituições em seus contornos, lógico bem mais acanhadas do que em outras cidades como Lobito, por exemplo. Realmente é uma cidade para fortes, como eram fortes os habitantes das cidades do interior do Brasil a 100 ou mesmo 50 anos atrás. Uma viagem ao interior de Angola é sempre como viajar através do tempo. Podemos nos deparar com coisas que nos lembram a infância mais remota e, como nesta viagem, com coisas anteriores a nossa gestão neste mundo.Menongue vista de baixo - Cidade para fortes.
Após rodar pela cidade e conhecer a Direcção Provincial do órgão de estradas, nos dirigimos para a ponte sobre o rio Luauaca, que seria o início dos trabalhos. Esta seria a maior extensão que iríamos trabalhar até então. Uma odisséia de 320,0km. Nosso mestre angolano Engenheiro Waldemar Alexandre nos preveniu que haveriam situações onde a estrada sumiria, se tornando uma imensa planície de savanas, sem definição do caminho a seguir. Isto era péssimo pois nada ainda nesta região fora plenamente desminado.Imensas savanas.
Então o risco de se voar pelos ares era grande. Para dar mais segurança, um dos ocupantes da expedição era um guia experiente no trajeto, que sabia onde estavam os caminhos, e principalmente que direção tomar nas inúmeras bifurcações que encontraríamos . Os primeiros vinte quilômetros foram realizados em excelentes condições, já que a plataforma da estrada estava firme e bem definida. Daí em diante tudo piorou e a “estrada” entrou em uma zona arenosa que não era qualquer veículo que podia trafegar. Foi aí que o nosso Land mostrou as suas potencialidades. Naquela areia fofa a tração nas quatro rodas foi excencial para conseguirmos nos locomover e vencer areais incríveis de quase 5km.A expedição seguiu neste primeiro dia até às 17:30 hs quando chegamos a localidade de Cuchi já escurecendo. Procuramos o administrador local que nos forneceu acomodações e alimentação em sua própria residência e em outra casa na vila. Saimos pela noite para encontrar o restante da equipe, que ficara na tal casa, e os encontramos já bebendo em um bar. O frio era de matar e as estórias dos conflitos se sucediam no esvaziar das garrafas dos vinhos baratos que eram vendidos no bar da vila. A cada rajada de metralhadora um gole de vinho era ingerido. E então apareceram personagens fantásticos do calibre de um coronel que atirava em sua própria tropa perfilada, matando uns dois antes de ir para as batalhas e um sargento que avançava sozinho no meio aotiroteio e as balas nunca o conseguiam atingir. Quando parava o tiroteio ele balançava a camisa e as balas caiam, “E ele está vivo pra não me deixar mentir”, contou Pistola, o braço direito do Director Florêncio do Huíla.
Único branco da equipe de angolanos, Pistola tem sempre uma história para contar. Seja de guerra, seja dos animais de seu país, seus fatos estão sempre emoldurados por mímicas e trejeitos que fazem sua assistência rolar de tanto rir. Contou-nos, com seu sotaque carregado das terras do Cunene, histórias da sua adolescência. Quando era rapazinho os pais estavam com receio de seus dotes para sobreviver naquela terra com conflitos que explodiam em todos os lugares. Então seus pais o jogaram no rio Cunene para ver como ele se saia. Diz Pistola que nadou de uma margem a outra do rio ajudado pelos jacarés com sua mãe observando. Ao final da empreitada, o jacaré o jogou para junto dela e então ela lhe disse “Este está pronto!” Ele faz graça até quando fala absurdos do tipo: “Estou com saudades da guerra. Ouvir uns tiros de vez em quando seria bom.”
Ao final das histórias de Pistola, nos encaminhamos para a casa do administrador, naquela noite sem Lua e sem iluminação, tentado não sucumbir ao frio e aos efeitos do vinho. Olhei para o Céu e pude presenciar uma quantidade de estrelas que eu nunca havia visto. Nem na infância, em Vitôria de Santo Antâo-Pernambuco, haviam tantas. Olhávamos e era possível divisar nuvens delas com seus brilhos longínquos. Era de estupefar!! Um verdadeiro espetáculo gratuito. Os astrônomos falam que só é possível divisar cerca de 3.000 estrelas em qualquer lugar. Não contei, mas estou apostando que ali no Cuchi, naquela noite, vimos mais que o dobro disto (para ter pensamentos sobre a quantidade das estrelas no céu é porque o vinho realmente pegou!).
O frio quando fomos dormir era algo que ainda não sentira (deveria estar em torno de uns 8º). Quando acordei acho que estava em torno de 10º. Iniciamos os levantamentos na ponte de mesmo nome da cidade – Ponte sobre o Rio Cuchi – que, para variar, estava destruída. Deveriam ser 6:00hs da manhã e perto do rio a temperatura diminuia mais ainda. Quando descemos para ver o estrago na ponte o frio tirava vapores gelados do rio, oferecendo uma visão magnífica. Vimos pessoas tomando banho naquelas águas e eu não entendi como aquilo era possível. Ao voltar para o carro, minhas mãos estavam duras. Eu simplesmente não conseguia escrever. Foi necessário ligar o aquecedor do carro para que conseguíssemos iniciar os trabalhos. Eu coloquei minha mão congelada na frente dele. Só assim foi possível mexer os dedos.
Encontramos o asfalto na cidade de Kuvango, no Huíla, e então, apesar das péssimas condições, os trabalhos transcorreram com mais velocidade. Almoçamos na beira da estrada e terminamos o dia na aldeia do Dongo onde conseguimos pousada para dormir. Realmente não sei se aquilo era uma pousada ou um bordéu. A decoração era desse último, mas não vimos as “funcionárias” integrantes deste tipo de estabelecimento, embora ache que se tivéssemos perguntado por elas, com certeza apareceriam. Como não tínhamos escolha, era ali ou dormir ao relento, fomos deixar as bagagens nos quartos. Como já estava quase acostumado ao estilo africano de acomodações, achei normal ter que dormir com Janilson e Sidclei em duas camas de casal. O pior era o banheiro comunitário. Só a nossa expedição era composta de 15 pessoas, fora os que já estavam na “pousada”. Logo se fez uma fila para usar a tal “casa de banhos”(denominação para banheiro aqui e em Portugal). Normalmente, nestas condições, não tenho encarado este tipo de instalação, mas como já havia vindo de uma banguela na casa do administrador do Cuchi, e por achar que não me aguentaria se não tomasse banho de novo, encarei de frente todo o conjunto sanitário. Depois de jogar aquela água gelada no corpo com a caneca, a sensação era de que havia me tornado um esquimó por ter conseguido suportar aquele banho sem precedentes. Estava completamente congelado, mas orgulhoso de ter superado certas aversões.
Ao amanhecer, após matabicharmos (este é o termo para “tomar café-da-manhã” por aqui, acredite), continuamos com os trabalhos que transcorreram de forma mais ágil, já que a estrada estava ajudando, sem muitas intercorrências a serem assinaladadas. Tudo continuou como antes: estrada asfaltada em más condições, mas com trafegabilidade, vilas contruídas com algumas diferenças básicas, pois em algumas os aldeões faziam um pequeno armazém no centro, com o piso elevado, para proteger os mantimentos. Cheguei a simpatizar muito com certas disposições das casas, onde o conjunto se parecia com um autêntico arraial. Imaginei uma festa de São João com a vila toda decorada e a bandinha tocando no centro. Nada mais pitoresco! A acolhida de cada vilarejo também não mudou, indo além da simples procura para pedir comida e outras necessidades. Falamos com um Soba (chefe da aldeia – veja crônica 6), que fez questão de mostrar sua casa com a bandeira do partido MPLA asteada à frente.
Em outra das vilas, encontramos um menino chamado Djoe que havia construido seu próprio patinete. Este não devia a nenhum dos comprados em loja. Djoe posou feliz para a nossa foto com sua obra-de-arte travestida de brinquedo e se tornou uma das visões mais interessantes e bonitas da viagem, símbolo daquelas crianças afetuosas que, mesmo nas condições em que vivem, não deixam de ser o que são, crianças!
Estávamos chegando ao fim dos trabalhos e isto queria dizer que nos aproximávamos próximos a uma cidade de porte médio chamada Matala e a 170km de uma grande cidade chamada Lubango, capital desta província tão deferenciada do resto do país. A província do Huíla, onde passaríamos o resto do final de semana em sua capital (era sábado 24 de maio de 2006), regressando a Luanda na segunda.
Ao chegarmos a Matala vimos uma extensa barragem logo na entrada da cidade, cujo topo da parede serve como ponte para vencer o Rio Cunene. Este rio já foi encontrado por nós quando chegamos a Província de mesmo nome do rio. A Província do Cunene foi objeto da Crônica 5 e pode ser acessada em http://www.fafm86.blogspot.com/ . Atravessamos mais uma vez este rio que contribui para a elevação do nível de vida da região, onde diversos projetos de irrigação estão sendo desenvolvidos a partir dele.
Em Matala concluimos os trabalhos e foi possível relaxar após a estrada mais extensa que trabalhamos. Ao todo 319 km de levantamentos. Isto merecia uma comemoração, que foi realizada de forma singela com todos os 15 ocupantes se cofraternizando ao sabor de cerveja na praça de Matala.
Pegamos o rumo para Lubango. Esta estrada, em seus próximos 132km, estaria sendo executada pela Empresa brasileira Andrade Gutierrez, que estava dando uma verdadeira aula de reabilitação de rodovias. Aliás, em matéria de construção pesada os brasileiros dão show. Nada é igual ao que é produzido pelas empresas nacionais aqui em Angola (e em boa parte do globo). Isto eu posso atestar. Não tem portugueses, nem chineses que se sobressaiam.
Vista para o Cristo.
Detalhe da vista.
Visões de Lubango - Palácio Provincial
Visões de Lubango - Ruas e Cinemas
Visões de Lubango - Monumento
Centro de Convenções
Procuramos não exagerar, mas também não quisemos qualquer instalação para passar o fim-de-semana, já que havíamos sofrido toda sorte de privações nestes dias.
Fomos a três hoteis cada um melhor do que o outro e decidimos ficar no Casper Lodge, situado na subida da serra em um dos locais mais aprazíveis de Lubango. O Hotel ocupava uma ampla área com chalés contornando a piscina. Ele tinha toda a estrutura de hotéis de inverno. Tomei um banho e fui descansar. Acordei umas 3 horas depois com fome. Fui procurar o restaurante. Saí de bermuda e camiseta para a noite estrelada que estava acima do hotel todo iluminado com spots ao redor da piscina. Saí curtindo aquela beleza de lugar, me encaminhando para a portaria para pegar informações. Alguma coisa me incomodava e eu ainda não havia percebido o que era. Ainda estava, meio atordoado do sono e da viagem extenuante. Cheguei na portaria e encontrei Sidclei conversando animadamente com o recepcionista e o porteiro. Os dois angolanos quando me viram olharam-me dos pés a cabeça assustados. Sidclei, que estava com a palavra, não escondendo o espanto, lançou de bate-pronto: “E este aqui é meu amigo russo Fernandovik”. Foi aí que eu fui entender o que me incomodava. Um frio de rachar estava fazendo na noite de Lubango e eu ali, na maior tranquilidade, de bermuda e camiseta, com todo mundo ao meu redor totalmente encapuzado. Corri para o quarto para me agasalhar e o casaco que coloquei não deu vencimento ao frio. Claro que tive que escutar toda a gozação dos meus companheiros sobre a minha demência sensitiva.
Casper Lodge - sem precedentes em Lubango.
Casper Lodge à noite.
Voltamos caminhando, tentando nos proteger de uma das sensações mais extremas de frio que eu já senti. Era quase uma da manhã e a madrugada em Lubango, naquele final de maio, estava para esquimó ver.
O dia seguinte nos reservaria surpresas sem precedentes. Acordamos e vesti o resto de roupa limpa que tinha na mala, ficando uma combinação, vamos dizer…inusitada. Calça verde e camista laranja. Será que dá pra lançar uma nova tendência? Fomos tomar o excelente café da manhã do Casper Lodge. Não precisamos esperar muito para que os nossos anfritiões, Florêncio e Antônio Maria, chegassem e nos levassem a uma verdadeira maratona turística pelas terras das províncias da Huíla e Namibe. Neste passeio variamos de 1200m de altitude para o nível do mar. As temperaturas variaram simplesmente de 12º até 45º C com clima desértico.
Primeiramente subimos a serra para visitar o Cristo Redentor e observar a cidade de cima. Foi uma bela visão, como é possível de se ver nas fotos. A cidade é plana e de onde estávamos podíamos ver todo o vale onde Lubango estava implantada.
Um dos componentes da equipe tem pânico de altura e não abdicou de ficar colado à parede do monumento, sem dar atenção a gozação em volta. Confiou apenas no Director Florêncio que o chamou para tirar uma foto observando as divisões da cidade.
Rumamos então para oeste por uma estrada perfeita, diferente de todas as que trafegamos até então. Começamos a conhecer uma parte diferenciada que mostrava um outro conceito de país. Nessa área tudo funcionava, tudo era bonito. Haviam indústrias que funcionavam instaladas em regiões de clima agradabilíssimo. Terminamos por chegar em um dos nossos objetivos para este dia. A descida da Serra da Leba. A Serra da Leba é um gigantesco paredão que divide a região planáltica, de altitudes elevadas, para a região desértica, que fica no litoral sul de Angola. O mais sensacional desta Serra da Leba é exatamente a forma que a estrada utiliza para descê-la, ou seja, além da paisagem, que é de tirar o fôlego, literalmente, o projeto geométrico da estrada é singular. Existe um ponto privilegiado que permite contemplar as duas maravilhas.
A primeira é composta da visão de toda a cadeia de montanhas e de vales que compôe uma paisagem natural, que aos olhos de um artista pintor se tornaria uma daquelas pinturas que custamos a acreditar que existe mesmo, achando que só pode ser obra da imaginação privilegiada de um visionário.
A segunda maravilha é obra da técnica, da habilidade e, principalmente, da sensibilidade de um outro artista, o engenheiro de projetos geométrico que concebeu esta obra-de-arte que impressiona até os leigos, através das curvas insinuantes e quase sensuais, que se utilizam do relevo, por linhas de menor declividade, a transpor enormes altitudes.
Descer a Serra da Leba foi uma experiência inigualável, que pode ser revivida nas fotos abaixo. Podíamos verificar, com detalhes, os viadutos e os muros de arrimo usados no projeto, enquanto a vista das montanhas mudava na janela do veículo.
Descida da Serra.
Viadutos da descida da Serra da Leba
A temperatura aumentava consideravelmente. Quando chegamos embaixo verificamos que tudo mudara com a mudança de clima. Na proporção que rodávamos a sensação térmica se tornava cada vez mais desconfortável até o ponto de abrirmos todas as janelas do carro, deixando o bafo quente sair. Passou a circular uma brisa nada agradável e lá fora a vegetação escasseava, fazendo com que a paisagem fosse tomada por uma aridez inóspita, onde o verde foi rareando até não mais existir. Pela estrada observávamos caçadores mucubais e mumuilas, com lanças vestidos de sarongue. Seguimos rodando naquele deserto, por uma estrada que se mantinha impecável, onde não era possível acreditar que era o mesmo país que necessitava ser reconstruído e passava extremas dificuldades, com as quais já estávamos nos acostumando.
Deserto da província do Namibe.
Oásis do deserto.
Com as Mucubais.
Êpa! É para olhar as pulseiras!
Deixamos as Mucubais e prosseguimos com a viagem em direção a cidade do Namibe, capital da província de mesmo nome, onde nos encontrávamos. Namibe ficava à beira mar e ao chegarmos próximos à cidade a temperatura voltou a cair drasticamente, nos tirando daquele calor, insuportável até mesmo para os nordestinos brasileiros. A cidade do Namibe não ofereceu mais muitas novidades além de seu porto e sua orla marítima. Também eu já estava saciado de tantas coisas diferentes nesta viagem e, sobretudo, neste dia tão peculiar, que nos revelaram uma Angola supreendente que eu jamais pensei que existisse.
Chegando a Namibe.
Orla marítima de Namibe.